sábado, 5 de dezembro de 2009

Gauche


Vamos mostrar hoje uma banda talentosa que foge dos padrões regionais. Como assim? Pois é, vem direto da Paraíba para fazer um Folkrock no Balaio Contemporâneo.


Balaio Contemporâneo - Como surgiu a banda?

Banda Gauche - A banda começou no final de 2003, quando eu (Bruno Sérgio, vocalista, violonista e tecladista) fui apresentado ao baterista (Paulo Alves) por um colega em comum chamado Pablo, que queria iniciar um projeto. A princípio, as músicas eram de Pablo e todas elas em inglês. Depois, em meados de 2004, é que a banda começou a se encaminhar para o que ela é hoje. Apareceram as minhas primeiras composições em português, as quais quase todas ainda fazem parte do nosso atual repertório. Mais ou menos nessa época, Pablo saiu, e a banda passou por várias formações, sempre contando comigo e com Paulo, até chegarem Luís (guitarra solo) e Berg (baixista).

Balaio Contemporâneo - Por que escolher um nome francês para titular a banda?

Banda Gauche - Bom, eu confesso que, quando escolhi o nome, desconhecia a sua origem. Não sabia que era francesa. Muita gente acha que foi tirado daquele famoso poema de Carlos Drummond de Andrade, o “ Poema das Sete Faces” em que há os versos: “Quando nasci, um anjo torto/desses que vivem na sombra/ disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida. “ Na verdade, encontrei a expressão numa resenha sobre Little Richard. A princípio, achei estranho, e um pouco ofensivo. Mas depois vi que este nome não poderia definir melhor- não apenas a sonoridade e o conteúdos das letras- mas até mesmo as peculiaridades dos integrantes da banda.


Balaio Contemporâneo - Como é fazer canção no estilo folkrock no estado em que a música regional (Forró) é predominante?

Banda Gauche - Evidentemente, há muito mais espaços para uma banda de forró tocar aqui do que uma banda de rock. As rádios são dirigidas para este filão e o público que ouve forró, naturalmente, é maior. Mas qual lugar no Brasil em que o rock predomina? Na Bahia, manda o Axé. Em Goiás, o Sertanejo, e por aí vai. Não é tão diferente de outros lugares. Acho que fazemos um som através do qual podemos encontrar público aqui mesmo ou em qualquer outro lugar. O problema é chegar a este público. Este é o maior desafio para uma banda independente: conseguir atingir as pessoas certas, sejam elas quais forem.

Balaio Contemporâneo - Lendo o perfil da banda no trama virtual, percebemos que vocês se definem como "Combo pessoense de pop-psicodélico". Por que?

Banda Gauche - O pop psicodélico é a grande referência da banda. Como pop psicodélico, tomamos as principais influências: The Zombies, Byrds, Beatles, Beach Boys. Nós, particularmente, tentamos mesclar o experimentalismo, a diversidade de timbres e climas do psicodélico em uma estrutura de canção, com melodias e um bom refrão, o que seria o lado mais "pop" da coisa.

Balaio Contemporâneo - Quais as influências musicais da banda?

Banda Gauche - Além das bandas que citamos na resposta anterior, ouvimos muito Pink Floyd, King Crimson, Love, Kinks, Mutantes, Secos & Molhados, Ronnie Von (fase psicodélica), Violeta de Outono, Echo & The Bunnymen, Stone Roses, Kula Shaker. Posso ter esquecido alguns, mas acho que esses são os essenciais.

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Onde Encontrar:

Myspace - Download - Orkut





domingo, 29 de novembro de 2009

Barulhista

Mineirinho, quietinho e com a cabeça ligada a 220v, nossa revelação musical dessa semana é o músico “O Barulhista” - um dos parceiros da banda “Eu, Você e Maria” com a canção “Gêmeos”, já exibida aqui no balaio. Ele vai nos contar suas peripécias, parcerias, criações e imaginações sempre com muita alegria.

Balaio Contemporâneo - De onde veio essa denominação "Barulhista"?

Barulhista - Barulhista há algum tempo atrás era o adjetivo dado ao músico ruim. Um xingamento entre os músicos. No ano de 2002, era assim que me chamavam, pois eu trabalhava com objetos sonoros (colheres, madeiras, brinquedos, etc.) e ficava difícil de responder a pergunta: Você toca o que? – Então, me lembrei do adjetivo e comecei a responder: Eu toco barulho. É sempre complicado dar nomes as coisas, assim como é difícil dar nome para um músico que toca computador.

Balaio Contemporâneo - Por que "Música para se ouvir sentado"?

Barulhista - Sempre fui contra rótulos, estilos e essas coisas que inventam para separar a música em nichos. Porém, nem todos pensam como eu. É algo muito parecido com a explicação do nome Barulhista, eu precisava responder também a pergunta: Qual estilo você toca? – Bom, eu acredito que todos os sons são música, todos mesmo. Não há diferença entre barulho e música, tudo depende de sua atenção para com o som. Alguns diziam que eu fazia “lounge”, outros “world music”, outros música experimental e outras coisas desse tipo. Mas, quando se assiste a uma apresentação minha se encontra vários elementos. Ao mesmo tempo, tenho uma preocupação mínima com a unidade de minhas construções sonoras: A calma. Tento sempre fazer músicas calmas. Músicas para se pensar um pouco ao que está ao redor, no que não está sendo dito verbalmente, mas está ali, num diálogo de signos sonoros.

A idéia é dançar com a mente, não seguir o caminho que mostro com os sons. Não há esse caminho e não é essa a intenção, e sim, utilizar os sons como uma forma de integrar-se a eles. Em minha opinião, não há forma melhor de “dançar” do que sentado.

Balaio Contemporâneo - De onde veio a ideia de capturar sons do nosso cotidiano e transformar em canção?

Barulhista - Não é exatamente algo pensado. Em 2003 participei de uma oficina com o Duo mineiro O Grivo, que me deixou minhas experiências sonoras mais ricas de referenciais práticos. Os sons do cotidiano já são música (canção). O que faço é organizar e modificar esses sons, tentando deixá-los mais próximos do ouvinte. Estreitando os laços entre a estética popular e minhas audições do meu cotidiano. Nem sempre é possível notar o ruído de um ônibus quando tento torná-lo uma melodia, mas ele está ali. O que transforma os sons do cotidiano em canção são os nossos ouvidos.

Balaio Contemporâneo - Sabemos que você é "deformado", como você mesmo afirma. Mesmo com esse dom que possui, não tem vontade de fazer uma formação, não?

Barulhista - Bom, acho que não há tempo. Tenho que tocar, ouvir, ler e pesquisar mais barulhos. Acredito sim na importância da instituição e todos os seus desdobramentos acadêmicos, mas a visão da academia sobre o tipo de música que faço ainda é a de que isso não é exatamente música. Parece que de alguma forma, por parte dos alunos há um esforço para que isso se modifique. Eu sigo ouvindo, processando e retornando meus barulhos. Viva os formados e os “deformados”!

Balaio Contemporâneo - Sabemos que você fez uma parceria com a banda "Eu, Você e Maria" por meio da internet. Como é fazer uma música por um mundo virtual?

Barulhista - O mundo virtual é como todas as coisas existentes: A intenção é que faz a diferença sobre o resultado. Fazer música através de e-mail requer uma paciência e uma coletividade que ás vezes não temos no mundo real. O trabalho com o “Eu, Você e Maria” foi uma das melhores coisas que a internet possibilitou para o meu trabalho. Estou ansioso para me encontrar pessoalmente com eles e poder fazer barulhos multiplicados. Há idéias para novas parcerias, não sei se isso irá se tornar um disco como eu havia previsto. Mas, a experiência é única.

Balaio Contemporâneo - No Brasil a música instrumental é pouco valorizada. Como você lida com isso? - já que suas canções são instrumentais. E por que fazer música desse tipo?

Barulhista - Música instrumental requer tempo e escuta dedicados é mesmo complicado ouvir algo onde não há o verbo em primeiro plano. Mas, o esforço é recompensado sempre que se apreende o inesperado numa melodia ou num barulho que nos traz um novo ar. Trabalhei com bandas e artistas onde haviam letras e muitas vozes, no entanto me encontrei em meios aos ruídos de sempre. Nunca fui de cantarolar muita coisa, não há exatamente um por que. Penso que é a minha forma de desenhar os sons: ruídos vindos do acaso das ruas de Belo Horizonte, uma bateria, um computador e muitas histórias que na verdade estão na cabeça de cada ouvinte.

Balaio Contemporâneo - Observando seus projetos, percebemos que seus barulhos são super diversificados, como: canções, cartazes, flyers, trilhas sonoras, e suas criações são em fases. Usando a primeira fase do “Mute” como exemplo, como é ter uma ideia e uma imagem de um futuro barulho? De onde vem a inspiração?

Barulhista - Tenho mais ou menos umas 246 idéias por dia e nem todas conseguem saída para os ouvidos, olhos e cérebros - então o que faço é peneirar a idéia possível para acontecer com as ferramentas que tenho no momento. Logo, a minha inspiração é uma peneira que deixa passar as idéias possíveis e joga as sobras de volta na cabeça. “Mute” é uma idéia desprovida de conceito, não sei o que será. Provavelmente não será apenas para os ouvidos e olhos. Tenho compulsão por tocar, assim como também por pausar. Como diria o mestre Cage: Não há silêncio que não esteja grávido de som. A questão é valorizar todos os sons, todos têm seu próprio conceito, sua própria estrutura e seus meios particulares de fazer vibrar nossos ouvidos. É simples, temos que ir com um pouquinho de paciência, boa intenção e vibrar junto com eles.

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Onde encontrar:

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"No meio do caminho tinha um pen drive" - Barulhista

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Daniel Migliavacca


“Como fosse um par que/Nessa valsa triste/Se desenvolvesse/Ao som dos Bandolins...” – é com esse trecho da canção “Bandolins” de Oswaldo Montenegro que o Balaio Contemporâneo faz uma entrevista com Daniel Migliavacca, um dos grandes músicos esperado na Feira de Música Brasil que vai acontecer entre os dias 9 e 13 de dezembro na cidade do Recife.

Balaio Contemporâneo - Como a música começou na tua vida?

Daniel Migliavacca - Quando eu tinha 12 anos ganhei um cavaquinho de presente da minha mãe e comecei a fazer aulas numa escola perto de casa. Na época ainda morava em São Paulo e tinha pouquíssimas referências musicais na minha casa. Com o tempo fui gostando de estudar e acabei me interessando inicialmente pelo samba. Mais tarde passei a me interessar pelo choro e outros tipos de música e também comecei a buscar professores particulares para me aperfeiçoar.

Balaio Contemporâneo - O que fez você mudar do cavaquinho para o Bandolim?

Daniel Migliavacca - Quando comecei a me interessar pelo choro eu sentia dificuldade de tocar algumas músicas no cavaquinho por causa da extensão do instrumento, principalmente o repertório do Jacob do Bandolim, Ernesto Nazareth e Pixinguinha. Em 2003, já morando em Curitiba, descobri o bandolim através de um amigo e vi que conseguia tocar tudo o que eu queria com aquela afinação e aí não parei mais de estudar e acabei adotando o bandolim como meu principal instrumento. Inicialmente fiz algumas aulas com o Cláudio Menandro, que é um grande músico que mora em Curitiba, e depois continuei estudando sozinho.

Balaio Contemporâneo - Como foi ganhar o primeiro lugar no "Prêmio Nabor Pires Camargo" em São Paulo, como melhor instrumentista?

Daniel Migliavacca - Fiquei muito feliz. Foi muito bom participar deste concurso, pois além do prêmio foi uma grande possibilidade de alargar os contatos musicais com outros músicos. Um exemplo disso foi o violonista de São Paulo, Alessandro Penezzi, que eu conheci no Nabor e agora ele participou como convidado em uma faixa do meu primeiro CD "Bandolim".

Balaio Contemporâneo - No Brasil a música instrumental é pouco valorizada. Como você lida com isso? E por que fazer música desse tipo?

Daniel Migliavacca - Infelizmente essa é uma realidade, mas acredito que sempre haverá espaço para a boa música, seja ela instrumental ou não. Acho que o grande desafio é fazer com que essa música chegue até as pessoas porque muitas vezes as pessoas acabam consumindo o que está ao seu alcance, ou seja, o que está na TV, no rádio, etc. Considero a internet uma grande aliada nossa, pois temos como levar essa música até as pessoas de maneira mais direta. Eu faço música instrumental primeiro pelo fascínio que tenho pelo bandolim e também porque acredito na força que essa música tem de emocionar as pessoas.

Balaio Contemporâneo - Você tem influência musical? Quais?

Daniel Migliavacca - Tenho muitas influências e tudo que eu escuto me influencia. Como bandolinista estudei muito com as gravações do Jacob do Bandolim e do Luperce Miranda. Mas também gosto muito do Joel Nascimento, Izaías Bueno de Almeida, Armandinho Macedo e Hamilton de Holanda.

Ouço muita música todos os dias e tenho muitos discos do Radamés Gnáttali, Hermeto Pascoal, Laércio de Freitas, Dominguinhos, Baden Powell, Pixinguinha, Sivuca, Garoto, Fundo de Quintal, Paulinho da Viola, Chico Buarque, Villa Lobos, Egberto Gismonti, Tom Jobim, Paco de Lucia, Bach, Vivaldi, e por aí vai...

Balaio Contemporâneo - Sabemos que você foi selecionado para participar da Feira de Música Brasileira, aqui em Recife. Você já fez show no Recife ou Nordeste? Quais são suas expectativas? O que os recifenses podem esperar do seu show?

Daniel Migliavacca - Nunca toquei no Nordeste. Estou muito ansioso para tocar e participar dessa Feira que é um evento sério e que reúne tanta gente diferente. Pra mim será um privilégio e uma responsabilidade representar um pouco da música instrumental brasileira e do meu instrumento, o bandolim.

O show será baseado no repertório do meu primeiro CD solo chamado "Bandolim" que eu lancei em outubro desse ano em Curitiba. Tem algumas composições minhas e alguns arranjos próprios de "A ginga do Mané" e "Receita de Samba" do Jacob, "Fuga para o Nordeste" do Dominguinhos e "Tico-tico no fubá" do Zequinha de Abreu.

Para esse show eu convidei três grandes músicos e amigos com quem já toco a algum tempo que são o Denis Mariano e o Vina Lacerda na percussão e o Vinícius Chamorro no Violão 7 cordas.

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Agenda:

Dia 11 de dezembro – Feira de Música Brasil - Recife

Onde Encontrar:

Myspace - Orkut