Balaio Contemporâneo - De onde veio essa denominação "Barulhista"?
Barulhista - Barulhista há algum tempo atrás era o adjetivo dado ao músico ruim. Um xingamento entre os músicos. No ano de 2002, era assim que me chamavam, pois eu trabalhava com objetos sonoros (colheres, madeiras, brinquedos, etc.) e ficava difícil de responder a pergunta: Você toca o que? – Então, me lembrei do adjetivo e comecei a responder: Eu toco barulho. É sempre complicado dar nomes as coisas, assim como é difícil dar nome para um músico que toca computador.
Balaio Contemporâneo - Por que "Música para se ouvir sentado"?
Barulhista - Sempre fui contra rótulos, estilos e essas coisas que inventam para separar a música
A idéia é dançar com a mente, não seguir o caminho que mostro com os sons. Não há esse caminho e não é essa a intenção, e sim, utilizar os sons como uma forma de integrar-se a eles. Em minha opinião, não há forma melhor de “dançar” do que sentado.
Balaio Contemporâneo - De onde veio a ideia de capturar sons do nosso cotidiano e transformar em canção?
Barulhista - Não é exatamente algo pensado. Em 2003 participei de uma oficina com o Duo mineiro O Grivo, que me deixou minhas experiências sonoras mais ricas de referenciais práticos. Os sons do cotidiano já são música (canção). O que faço é organizar e modificar esses sons, tentando deixá-los mais próximos do ouvinte. Estreitando os laços entre a estética popular e minhas audições do meu cotidiano. Nem sempre é possível notar o ruído de um ônibus quando tento torná-lo uma melodia, mas ele está ali. O que transforma os sons do cotidiano em canção são os nossos ouvidos.
Balaio Contemporâneo - Sabemos que você é "deformado", como você mesmo afirma. Mesmo com esse dom que possui, não tem vontade de fazer uma formação, não?
Barulhista - Bom, acho que não há tempo. Tenho que tocar, ouvir, ler e pesquisar mais barulhos. Acredito sim na importância da instituição e todos os seus desdobramentos acadêmicos, mas a visão da academia sobre o tipo de música que faço ainda é a de que isso não é exatamente música. Parece que de alguma forma, por parte dos alunos há um esforço para que isso se modifique. Eu sigo ouvindo, processando e retornando meus barulhos. Viva os formados e os “deformados”!
Balaio Contemporâneo - Sabemos que você fez uma parceria com a banda "Eu, Você e Maria" por meio da internet. Como é fazer uma música por um mundo virtual?
Barulhista - O mundo virtual é como todas as coisas existentes: A intenção é que faz a diferença sobre o resultado. Fazer música através de e-mail requer uma paciência e uma coletividade que ás vezes não temos no mundo real. O trabalho com o “Eu, Você e Maria” foi uma das melhores coisas que a internet possibilitou para o meu trabalho. Estou ansioso para me encontrar pessoalmente com eles e poder fazer barulhos multiplicados. Há idéias para novas parcerias, não sei se isso irá se tornar um disco como eu havia previsto. Mas, a experiência é única.
Balaio Contemporâneo - No Brasil a música instrumental é pouco valorizada. Como você lida com isso? - já que suas canções são instrumentais. E por que fazer música desse tipo?
Barulhista - Música instrumental requer tempo e escuta dedicados é mesmo complicado ouvir algo onde não há o verbo em primeiro plano. Mas, o esforço é recompensado sempre que se apreende o inesperado numa melodia ou num barulho que nos traz um novo ar. Trabalhei com bandas e artistas onde haviam letras e muitas vozes, no entanto me encontrei em meios aos ruídos de sempre. Nunca fui de cantarolar muita coisa, não há exatamente um por que. Penso que é a minha forma de desenhar os sons: ruídos vindos do acaso das ruas de Belo Horizonte, uma bateria, um computador e muitas histórias que na verdade estão na cabeça de cada ouvinte.
Balaio Contemporâneo - Observando seus projetos, percebemos que seus barulhos são super diversificados, como: canções, cartazes, flyers, trilhas sonoras, e suas criações são
Barulhista - Tenho mais ou menos umas 246 idéias por dia e nem todas conseguem saída para os ouvidos, olhos e cérebros - então o que faço é peneirar a idéia possível para acontecer com as ferramentas que tenho no momento. Logo, a minha inspiração é uma peneira que deixa passar as idéias possíveis e joga as sobras de volta na cabeça. “Mute” é uma idéia desprovida de conceito, não sei o que será. Provavelmente não será apenas para os ouvidos e olhos. Tenho compulsão por tocar, assim como também por pausar. Como diria o mestre Cage: Não há silêncio que não esteja grávido de som. A questão é valorizar todos os sons, todos têm seu próprio conceito, sua própria estrutura e seus meios particulares de fazer vibrar nossos ouvidos. É simples, temos que ir com um pouquinho de paciência, boa intenção e vibrar junto com eles.
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3 comentários:
Demais meninas!
Barulhista nosso amigo-parceiro tendo um espaço tão cuidado assim.
Com o mesmo cuidado que ele tem com o ouvido das pessoas, sempre presenteando com belos sons.
Grande Abraço ao Menino dos Barulhos e às Meninas barulhentas.
Eu, Você e Maria
Olá, somos a banda Citoplasma e gostamos muito do espaço. A entrevista feita com o "Barulhista" ficou ótima. Gostaríamos de saber se podemos ser entrevistados também? Enviaremos o nosso myspace. Abraços, Citoplasma.
http://www.myspace.com/bandacitoplasma
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