sábado, 5 de dezembro de 2009

Gauche


Vamos mostrar hoje uma banda talentosa que foge dos padrões regionais. Como assim? Pois é, vem direto da Paraíba para fazer um Folkrock no Balaio Contemporâneo.


Balaio Contemporâneo - Como surgiu a banda?

Banda Gauche - A banda começou no final de 2003, quando eu (Bruno Sérgio, vocalista, violonista e tecladista) fui apresentado ao baterista (Paulo Alves) por um colega em comum chamado Pablo, que queria iniciar um projeto. A princípio, as músicas eram de Pablo e todas elas em inglês. Depois, em meados de 2004, é que a banda começou a se encaminhar para o que ela é hoje. Apareceram as minhas primeiras composições em português, as quais quase todas ainda fazem parte do nosso atual repertório. Mais ou menos nessa época, Pablo saiu, e a banda passou por várias formações, sempre contando comigo e com Paulo, até chegarem Luís (guitarra solo) e Berg (baixista).

Balaio Contemporâneo - Por que escolher um nome francês para titular a banda?

Banda Gauche - Bom, eu confesso que, quando escolhi o nome, desconhecia a sua origem. Não sabia que era francesa. Muita gente acha que foi tirado daquele famoso poema de Carlos Drummond de Andrade, o “ Poema das Sete Faces” em que há os versos: “Quando nasci, um anjo torto/desses que vivem na sombra/ disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida. “ Na verdade, encontrei a expressão numa resenha sobre Little Richard. A princípio, achei estranho, e um pouco ofensivo. Mas depois vi que este nome não poderia definir melhor- não apenas a sonoridade e o conteúdos das letras- mas até mesmo as peculiaridades dos integrantes da banda.


Balaio Contemporâneo - Como é fazer canção no estilo folkrock no estado em que a música regional (Forró) é predominante?

Banda Gauche - Evidentemente, há muito mais espaços para uma banda de forró tocar aqui do que uma banda de rock. As rádios são dirigidas para este filão e o público que ouve forró, naturalmente, é maior. Mas qual lugar no Brasil em que o rock predomina? Na Bahia, manda o Axé. Em Goiás, o Sertanejo, e por aí vai. Não é tão diferente de outros lugares. Acho que fazemos um som através do qual podemos encontrar público aqui mesmo ou em qualquer outro lugar. O problema é chegar a este público. Este é o maior desafio para uma banda independente: conseguir atingir as pessoas certas, sejam elas quais forem.

Balaio Contemporâneo - Lendo o perfil da banda no trama virtual, percebemos que vocês se definem como "Combo pessoense de pop-psicodélico". Por que?

Banda Gauche - O pop psicodélico é a grande referência da banda. Como pop psicodélico, tomamos as principais influências: The Zombies, Byrds, Beatles, Beach Boys. Nós, particularmente, tentamos mesclar o experimentalismo, a diversidade de timbres e climas do psicodélico em uma estrutura de canção, com melodias e um bom refrão, o que seria o lado mais "pop" da coisa.

Balaio Contemporâneo - Quais as influências musicais da banda?

Banda Gauche - Além das bandas que citamos na resposta anterior, ouvimos muito Pink Floyd, King Crimson, Love, Kinks, Mutantes, Secos & Molhados, Ronnie Von (fase psicodélica), Violeta de Outono, Echo & The Bunnymen, Stone Roses, Kula Shaker. Posso ter esquecido alguns, mas acho que esses são os essenciais.

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Onde Encontrar:

Myspace - Download - Orkut





domingo, 29 de novembro de 2009

Barulhista

Mineirinho, quietinho e com a cabeça ligada a 220v, nossa revelação musical dessa semana é o músico “O Barulhista” - um dos parceiros da banda “Eu, Você e Maria” com a canção “Gêmeos”, já exibida aqui no balaio. Ele vai nos contar suas peripécias, parcerias, criações e imaginações sempre com muita alegria.

Balaio Contemporâneo - De onde veio essa denominação "Barulhista"?

Barulhista - Barulhista há algum tempo atrás era o adjetivo dado ao músico ruim. Um xingamento entre os músicos. No ano de 2002, era assim que me chamavam, pois eu trabalhava com objetos sonoros (colheres, madeiras, brinquedos, etc.) e ficava difícil de responder a pergunta: Você toca o que? – Então, me lembrei do adjetivo e comecei a responder: Eu toco barulho. É sempre complicado dar nomes as coisas, assim como é difícil dar nome para um músico que toca computador.

Balaio Contemporâneo - Por que "Música para se ouvir sentado"?

Barulhista - Sempre fui contra rótulos, estilos e essas coisas que inventam para separar a música em nichos. Porém, nem todos pensam como eu. É algo muito parecido com a explicação do nome Barulhista, eu precisava responder também a pergunta: Qual estilo você toca? – Bom, eu acredito que todos os sons são música, todos mesmo. Não há diferença entre barulho e música, tudo depende de sua atenção para com o som. Alguns diziam que eu fazia “lounge”, outros “world music”, outros música experimental e outras coisas desse tipo. Mas, quando se assiste a uma apresentação minha se encontra vários elementos. Ao mesmo tempo, tenho uma preocupação mínima com a unidade de minhas construções sonoras: A calma. Tento sempre fazer músicas calmas. Músicas para se pensar um pouco ao que está ao redor, no que não está sendo dito verbalmente, mas está ali, num diálogo de signos sonoros.

A idéia é dançar com a mente, não seguir o caminho que mostro com os sons. Não há esse caminho e não é essa a intenção, e sim, utilizar os sons como uma forma de integrar-se a eles. Em minha opinião, não há forma melhor de “dançar” do que sentado.

Balaio Contemporâneo - De onde veio a ideia de capturar sons do nosso cotidiano e transformar em canção?

Barulhista - Não é exatamente algo pensado. Em 2003 participei de uma oficina com o Duo mineiro O Grivo, que me deixou minhas experiências sonoras mais ricas de referenciais práticos. Os sons do cotidiano já são música (canção). O que faço é organizar e modificar esses sons, tentando deixá-los mais próximos do ouvinte. Estreitando os laços entre a estética popular e minhas audições do meu cotidiano. Nem sempre é possível notar o ruído de um ônibus quando tento torná-lo uma melodia, mas ele está ali. O que transforma os sons do cotidiano em canção são os nossos ouvidos.

Balaio Contemporâneo - Sabemos que você é "deformado", como você mesmo afirma. Mesmo com esse dom que possui, não tem vontade de fazer uma formação, não?

Barulhista - Bom, acho que não há tempo. Tenho que tocar, ouvir, ler e pesquisar mais barulhos. Acredito sim na importância da instituição e todos os seus desdobramentos acadêmicos, mas a visão da academia sobre o tipo de música que faço ainda é a de que isso não é exatamente música. Parece que de alguma forma, por parte dos alunos há um esforço para que isso se modifique. Eu sigo ouvindo, processando e retornando meus barulhos. Viva os formados e os “deformados”!

Balaio Contemporâneo - Sabemos que você fez uma parceria com a banda "Eu, Você e Maria" por meio da internet. Como é fazer uma música por um mundo virtual?

Barulhista - O mundo virtual é como todas as coisas existentes: A intenção é que faz a diferença sobre o resultado. Fazer música através de e-mail requer uma paciência e uma coletividade que ás vezes não temos no mundo real. O trabalho com o “Eu, Você e Maria” foi uma das melhores coisas que a internet possibilitou para o meu trabalho. Estou ansioso para me encontrar pessoalmente com eles e poder fazer barulhos multiplicados. Há idéias para novas parcerias, não sei se isso irá se tornar um disco como eu havia previsto. Mas, a experiência é única.

Balaio Contemporâneo - No Brasil a música instrumental é pouco valorizada. Como você lida com isso? - já que suas canções são instrumentais. E por que fazer música desse tipo?

Barulhista - Música instrumental requer tempo e escuta dedicados é mesmo complicado ouvir algo onde não há o verbo em primeiro plano. Mas, o esforço é recompensado sempre que se apreende o inesperado numa melodia ou num barulho que nos traz um novo ar. Trabalhei com bandas e artistas onde haviam letras e muitas vozes, no entanto me encontrei em meios aos ruídos de sempre. Nunca fui de cantarolar muita coisa, não há exatamente um por que. Penso que é a minha forma de desenhar os sons: ruídos vindos do acaso das ruas de Belo Horizonte, uma bateria, um computador e muitas histórias que na verdade estão na cabeça de cada ouvinte.

Balaio Contemporâneo - Observando seus projetos, percebemos que seus barulhos são super diversificados, como: canções, cartazes, flyers, trilhas sonoras, e suas criações são em fases. Usando a primeira fase do “Mute” como exemplo, como é ter uma ideia e uma imagem de um futuro barulho? De onde vem a inspiração?

Barulhista - Tenho mais ou menos umas 246 idéias por dia e nem todas conseguem saída para os ouvidos, olhos e cérebros - então o que faço é peneirar a idéia possível para acontecer com as ferramentas que tenho no momento. Logo, a minha inspiração é uma peneira que deixa passar as idéias possíveis e joga as sobras de volta na cabeça. “Mute” é uma idéia desprovida de conceito, não sei o que será. Provavelmente não será apenas para os ouvidos e olhos. Tenho compulsão por tocar, assim como também por pausar. Como diria o mestre Cage: Não há silêncio que não esteja grávido de som. A questão é valorizar todos os sons, todos têm seu próprio conceito, sua própria estrutura e seus meios particulares de fazer vibrar nossos ouvidos. É simples, temos que ir com um pouquinho de paciência, boa intenção e vibrar junto com eles.

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Onde encontrar:

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"No meio do caminho tinha um pen drive" - Barulhista

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Daniel Migliavacca


“Como fosse um par que/Nessa valsa triste/Se desenvolvesse/Ao som dos Bandolins...” – é com esse trecho da canção “Bandolins” de Oswaldo Montenegro que o Balaio Contemporâneo faz uma entrevista com Daniel Migliavacca, um dos grandes músicos esperado na Feira de Música Brasil que vai acontecer entre os dias 9 e 13 de dezembro na cidade do Recife.

Balaio Contemporâneo - Como a música começou na tua vida?

Daniel Migliavacca - Quando eu tinha 12 anos ganhei um cavaquinho de presente da minha mãe e comecei a fazer aulas numa escola perto de casa. Na época ainda morava em São Paulo e tinha pouquíssimas referências musicais na minha casa. Com o tempo fui gostando de estudar e acabei me interessando inicialmente pelo samba. Mais tarde passei a me interessar pelo choro e outros tipos de música e também comecei a buscar professores particulares para me aperfeiçoar.

Balaio Contemporâneo - O que fez você mudar do cavaquinho para o Bandolim?

Daniel Migliavacca - Quando comecei a me interessar pelo choro eu sentia dificuldade de tocar algumas músicas no cavaquinho por causa da extensão do instrumento, principalmente o repertório do Jacob do Bandolim, Ernesto Nazareth e Pixinguinha. Em 2003, já morando em Curitiba, descobri o bandolim através de um amigo e vi que conseguia tocar tudo o que eu queria com aquela afinação e aí não parei mais de estudar e acabei adotando o bandolim como meu principal instrumento. Inicialmente fiz algumas aulas com o Cláudio Menandro, que é um grande músico que mora em Curitiba, e depois continuei estudando sozinho.

Balaio Contemporâneo - Como foi ganhar o primeiro lugar no "Prêmio Nabor Pires Camargo" em São Paulo, como melhor instrumentista?

Daniel Migliavacca - Fiquei muito feliz. Foi muito bom participar deste concurso, pois além do prêmio foi uma grande possibilidade de alargar os contatos musicais com outros músicos. Um exemplo disso foi o violonista de São Paulo, Alessandro Penezzi, que eu conheci no Nabor e agora ele participou como convidado em uma faixa do meu primeiro CD "Bandolim".

Balaio Contemporâneo - No Brasil a música instrumental é pouco valorizada. Como você lida com isso? E por que fazer música desse tipo?

Daniel Migliavacca - Infelizmente essa é uma realidade, mas acredito que sempre haverá espaço para a boa música, seja ela instrumental ou não. Acho que o grande desafio é fazer com que essa música chegue até as pessoas porque muitas vezes as pessoas acabam consumindo o que está ao seu alcance, ou seja, o que está na TV, no rádio, etc. Considero a internet uma grande aliada nossa, pois temos como levar essa música até as pessoas de maneira mais direta. Eu faço música instrumental primeiro pelo fascínio que tenho pelo bandolim e também porque acredito na força que essa música tem de emocionar as pessoas.

Balaio Contemporâneo - Você tem influência musical? Quais?

Daniel Migliavacca - Tenho muitas influências e tudo que eu escuto me influencia. Como bandolinista estudei muito com as gravações do Jacob do Bandolim e do Luperce Miranda. Mas também gosto muito do Joel Nascimento, Izaías Bueno de Almeida, Armandinho Macedo e Hamilton de Holanda.

Ouço muita música todos os dias e tenho muitos discos do Radamés Gnáttali, Hermeto Pascoal, Laércio de Freitas, Dominguinhos, Baden Powell, Pixinguinha, Sivuca, Garoto, Fundo de Quintal, Paulinho da Viola, Chico Buarque, Villa Lobos, Egberto Gismonti, Tom Jobim, Paco de Lucia, Bach, Vivaldi, e por aí vai...

Balaio Contemporâneo - Sabemos que você foi selecionado para participar da Feira de Música Brasileira, aqui em Recife. Você já fez show no Recife ou Nordeste? Quais são suas expectativas? O que os recifenses podem esperar do seu show?

Daniel Migliavacca - Nunca toquei no Nordeste. Estou muito ansioso para tocar e participar dessa Feira que é um evento sério e que reúne tanta gente diferente. Pra mim será um privilégio e uma responsabilidade representar um pouco da música instrumental brasileira e do meu instrumento, o bandolim.

O show será baseado no repertório do meu primeiro CD solo chamado "Bandolim" que eu lancei em outubro desse ano em Curitiba. Tem algumas composições minhas e alguns arranjos próprios de "A ginga do Mané" e "Receita de Samba" do Jacob, "Fuga para o Nordeste" do Dominguinhos e "Tico-tico no fubá" do Zequinha de Abreu.

Para esse show eu convidei três grandes músicos e amigos com quem já toco a algum tempo que são o Denis Mariano e o Vina Lacerda na percussão e o Vinícius Chamorro no Violão 7 cordas.

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Agenda:

Dia 11 de dezembro – Feira de Música Brasil - Recife

Onde Encontrar:

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domingo, 15 de novembro de 2009

Os Mercados Públicos do Recife

O nome mercado público nos reflete a ideia de um local de mudança em que os movimentos urbanos se encontram e a experiência de interação, vinda das ruas, se intensifica por meio daqueles que vendem e compram. Só que para os Recifenses vai além de um simples bazar de mercadorias, pois eles freqüentam democraticamente esse ambiente para realizar festas, encontros de amigos, boêmias aos sábados e inúmeros eventos. Nesse espaço cultural encontramos pessoas de todas as cores, credos e classes. Enfim, são seres que vivem e frequentam os mercados há gerações e ainda conseguem se emocionar com as lembranças.

Como vocês estão percebendo, o caminho a ser traçado hoje será diferente. Vamos mostrar um pouco das histórias de três grandes mercados públicos da cidade do Recife – São José, Boa Vista e Madalena.


Mercado São José

A história do mercado começa ainda no século XVIII, quando se faltava um local apropriado para a venda de mercadorias no Recife. Estabelece-se um comércio diversificado ao lado da Igreja no terreno Sítio dos Coqueiros, cujos antigos proprietários doaram-no para os Frades Capuchinhos do Recife. O primeiro nome que teve foi Mercado da Ribeira do Peixe, que ficava na Vila dos Pescadores, onde ali encostavam os barcos para vender seus produtos. Com o tempo passa-se a chamar de Mercado de São José.

Como o bairro cresce bastante, com muitos casarões, os Frades cobram do governo um mercado regular ali, travando uma disputa sobre a pose das terras que somente foi resolvida pelo imperador, que as julgou pertencentes ao povo. A Câmara Municipal contrata os engenheiros Victor Lenthier e Louis Léger Vauthier, que cuidou dos detalhes, para construírem o novo mercado, inspirado no MercadoPúblico de Paris, Grenelle. Há modificações nos materiais usados, devido ao clima, mas o propósito é refletir o desenvolvimento e a modernidade do Recife. É inaugurado no dia 7 de Setembro de 1875. Também foi feito um livro de assinaturas, onde o primeiro nome é do abolicionista Joaquim Nabuco.

Passou por reformas em 1906 e 1941, com a troca por materiais mais duráveis. Quando completou um século de vida, o mercado ganhou o título de Patrimônio Arquitetônico e Histórico Nacional por ser o primeiro exemplo de arquitetura de ferro no Brasil. O Mercado já passou por um incêndio no pavilhão Norte no ano de 1989, sendo entregue em 1994.

Completou este ano 134 anos e já possui uma pelada de futebol que é disputada anualmente, com times que tem nomes como: Carne, Sopa, Frango e Artesanato; tem um bloco de Carnaval, o Bloco de Samba da Turma do Saberé. Tem este nome em homenagem ao peixe mais difícil de ser fisgado pelo anzol e mais procurado no mercado.

As histórias que ali existem são muitas, principalmente nos anos 70, quando o bairro de São José não tinha o perfil comercial, e no próprio mercado aconteciam apresentações de cantadores de viola e manifestações folclóricas. Até hoje, os 561 boxes chamam a atenção dos visitantes mais diversos, tanto pela originalidade quanto pela variedade e preços baixos, que conquistaram os mais diversos clientes que ali vão.

Mercado da Boa Vista



Os arcos que dão acesso ao pátio em formato de U do mercado lembram conventos, e outrora já foram freqüentados pela alta freguesia do bairro da Boa Vista. O mercado adquiriu um perfil mais popular, mas que continua encantando os traunsentes e visitantes por sua arquitetura, que por hora lembra o antigo Mercado da Ribeira do Peixe. A construção do mercado aconteceu no governo e Diogo Lobo da Silva, quando moradores e comerciantes se uniram para pressionar a construção de um mercado no bairro, visto que o mais próximo era o Mercado da Praça do Polé, atual Praça do Diário.

Um terreno na Rua De São Gonçalo (hoje Rua De Santa Cruz) foi escolhido e construído uma praça e um açougue, onde também se comercializavam cereais, verduras e por um momento, escravos, no boxe número um.

Após um tempo fechado, é reaberto no ano de 1901 e sofre restauração no ano de 1946. Também passou por três incêndios, o último em 2005. Mas o que chama a atenção dos comerciantes que ali estão há muito tempo é o fato de hoje a tradição de passar a venda de pai para filho é rara num mercado público; a grande variedade de profissões e o leque de supermercados existentes poderiam justificar isto.

Trabalhar no mercado é quase que viver lá, pois seu funcionamento é de domingo a domingo, sendo que nos finais de semana é que se têm mais movimentação. A caderneta de pedidos ainda é válida nos boxes, utilizados por fregueses tradicionais que praticamente acompanharam a história do mercado. Estes personagens é que fazem o mercado tal qual ele é hoje, com suas histórias, conversas, jogos, rodas de música, cafés da manhã e muitos petiscos famosos, como o patinho cozido no feijão preto, que permanecem no tempo.


Mercado da Madalena

O início do bairro nos remete ao período açucareiro, onde naquelas terras exixtiu um engenho de tração animal que levava o nome da esposa do proprietário, Dona Madalena Gonçalves Furtado. Era conhecido como ‘passagem de D. Madalena’ e no século XX ali havia um aglomerado de casas e comerciantes, que formavam a Feira do Bacurau. Os produtos vendidos eram postos à vista para a venda sem nenhuma organização e tinha seu pique pela noite, quando os boêmios voltavam da ‘zona’ e se reabasteciam nos bares.

O mercado mesmo só nasceu no ano de 1925, com arquitetura que remete às casas coloniais, uma praça construída ao lado para embelezar o local, que continuou com antigos hábitos da feira, como as "comidinhas de fim de noite".

Os boxes de pedra são substituídos por boxes cobertos e organizados em três ruas com o posterior acréscimo de um novo corredor. Também a rua que separava o mercado da Praça foi transformada em rua de pedrestes e abriga a Feira de Passarinhos.

Nos bares tradicionais, os fregueses antigos ainda usam a caderneta, e continuam pedindo os pratos típicos, como o famoso cuscuz com bode guisado e o sarapatel, sejam no jantar, sejam no café da manhã. Outra tradição que se repete é tocar o sino ao entrar no Bar dos Cornos, parada para os que desejam comer uma galinha cabidela e tomar uma cachaça, e que anualmente elegem o "Corno do Ano".

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Queremos agradecer a participação de Carlos Henrique e Priscilla Costa, que juntos com duas Severinas fizeram essa coleta de informações para a realização de um trabalho acadêmico e que aproveitamos para mostrar aqui no Balaio um pouco da cultura pernambucana. Pois, como diz Carlos Henrique: “Um mercado público é uma fotografia perfeita para um retrato cultural de um povo.”

domingo, 8 de novembro de 2009

Bossa Contemporânea

FelixBravo é um projeto que surgiu de uma amizade. Os dois se conheceram no colégio, começaram a estudar e compor músicas juntos e quando viram, já estavam iniciando gravações. Continuaram as composições estruturando o trabalho cada vez mais. Suas canções são bem peculiares, denominadas em "Música para se ouvir em silêncio". Isso porque todas elas são recheadas de detalhes na letra, na melodia e no ritmo. É um tipo de canção popular que, quanto mais você escuta, mais detalhes percebem. Para eles o silêncio é a peça fundamental, com a qual trabalham para alcançar o público com a mensagem que querem passar.

Iniciaram no cenário musical na própria cidade, Curitiba. Além de terem sido convidados a tocarem em São Paulo, no SESC da vila mariana. As influências são muitas. Escutam desde bossa/jazz, música impressionista como Debussy, Ravel. Além de Tom, Vinicius, Pixinguinha, Chico Buarque, Paulo César e Aldir Blanc. Também escutam muito samba de Noel Rosa, Cartola e Cavaquinho. E, claro, adoram o jazz brasileiro (Os Cobras, Brazilian Octopus), em especial.

Confessam que esse é o grande momento em que vivem com a tecnologia. Muita gente que não teria como escutá-los nos moldes normais de divulgação e venda de músicas, estão escutando em várias cidades do Brasil e do mundo. O que é a realização de todo artista. Gente da Califórnia, de Manaus, de São Paulo, do interior do Paraná, da Bahia, de Recife, da França e de tantos outros lugares acessando e apreciando o trabalho deles. O que para o artista é uma realização que não tem preço.

E, por fim, o balaio contemporâneo pergunta a eles se concordam que a música brasileira está desvalorizada tanto na estética quanto na sonoridade:

"Depende. Para o grande público, boa parte da música brasileira passa despercebida tamanho marketing/produção existente com foco em música estrangeira. Contudo, há uma parcela da população brasileira que consome e aprecia a música popular em todos os seus níveis, desde a raiz até o contemporâneo. A desvalorização que às vezes se faz sentir vem, em grande parte, das mudanças vetoriais do mercado. Quem aprecia boa música não dá as caras na novela, nem no ibope, tampouco na televisão aberta. A estética e a sonoridade da música brasileira, na nossa opinião, estão em franca transformação. Após dois séculos de história, após a solidificação de algumas vertentes (maracatu, frevo, samba, choro, MPB, instrumental), o que vemos agora é um novo momento onde as vertentes se mesclam criando novas vertentes, novos símbolos, é um novo momento da história da música nacional. Com relação à sonoridade, cada vez novos músicos se apresentam ao público com talentos e performances mais efusivas e emocionantes.

A geração de Hamilton de Hollanda, André Mehmari, Dimos Goudaroulis, o próprio Vitor Araújo (um pouco mais novo), a nova geração de cantoras (Marianas, Marias), a nova geração de Orquestras (Olinda, Imperial, Republicana), sem falar nos novos compositores (Camelo, Krieger, Ferreira, tantos). Tudo isso faz parte de um movimento macro de miscigenação de influências e sonoridades, que em nossa opinião, está engrandecendo nosso arsenal musical." - diz FelixBravo.








Onde Encontrar:


segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Severinas

“Quando a gente canta/somente aquilo que a gente sente/profundamente não há lugar nenhum para canção doente/porque a alegria se derrama quente/pois quando a gente canta alegria/a força da canção explode/se irradia/é como a luz do sol sendo a luz da gente/é como a luz da gente sendo a luz do dia” – é com essa citação de Gonzaguinha que queremos compartilhar nossa felicidade de três meses de blog, com vocês leitores.

Em pouco tempo de Balaio Contemporâneo percebemos o grande número de novos talentos que o Brasil possui, e que com certeza nós - severinas - vamos buscar cada vez mais. Queremos ressaltar e agradecer pela grande parceira que ganhamos, Sophia Borges. E exibir um pouco do nosso talento de fotografar, que descobrimos devido ao blog.












por Lara













por Juliana Isola













por Su,hã?














por Ju Moraes



domingo, 25 de outubro de 2009

Juliana Fumero

Nosso foco hoje está direcionado para uma menina que tem um olhar poético e sensível para captar imagens de pessoas e do cotidiano. Formada em Comunicação Social, Juliana Fumero é fotografa e editora de vídeo.

“No início comecei clicando um pouco aqui, depois um pouco ali e de repente me vi completamente apaixonada pela fotografia. Hoje não consigo me imaginar longe de uma câmera fotográfica. Através das imagens, podemos contar diversas histórias, relatar descasos, evidenciar fatos do dia-a-dia, enfim, podemos traçar quase um perfil de onde vivemos, visitamos ou mesmo que presenciamos. Cada qual com seu olhar particular sobre o mundo, as pessoas e porque não os sentimentos. ”- diz Ju Fumero.

Ela acredita na exclusividade do retrato, pelo fato de cada um deles ter seu momento eterno que não se repetirá, assim como o tempo. Tem uma preferência maior por fotos coloridas, acha complicado acertar a mão na fotografia em preto e branco, apesar de admirar e saber do peso que a fotografia P&B carrega quando se trata da dramaturgia da cena.

Quando perguntamos sobre um conselho para as pessoas que estão começando nessa área da fotografia, ela afirma que não se senti a pessoa mais indicada a responder essa pergunta, pelo fato de não sobreviver da fotografia, mas ama cada momento que fotografa. E ressalta:
Eu pessoalmente acho, que as coisas sejam elas quais forem, só dão certo quando se faz com amor e com muita paixão. Quando se tem um frio na barriga, ou quando se tem a sensação de paz e tranquilidade. Momentos difíceis sempre existirão, por isso resta-nos buscar o que de fato preenche nossa vida e o que nos satisfaz. Sucesso, dinheiro, fama... São consequências para uns, sub-refúgios para outros, banais ou imprescindíveis para outros mais”.

Por fim, agradeceu pela oportunidade, falando dos benefícios que a internet nos trás, e que ficou feliz em alcançar seu objetivo: “Saber que de alguma forma, minhas fotos fizeram o papel que gostaria que fizessem: serem observadas, sentidas, criticadas, admiradas.”

Os Fotógrafos que ela admira, e que recomenda, estão em seus favoritos, no seu flickr.



Também possui um blog, onde coloca pensamentos pessoais, e claro, algumas de suas lindas fotografias.























domingo, 4 de outubro de 2009

Eu, Você e Maria


É com piruetas e cambalhotas no cenário cultural do balaio contemporâneo que entrevistamos o grupo “Eu, Você e Maria”, que vai mostrar a interação dos instrumentos orgânicos com os tecnológicos e toda sua autenticidade.

Balaio Contemporâneo - Como originou a banda?

Eu, Você e Maria - Estudamos todos na mesma Faculdade (Faculdade de Artes do Paraná). Só que nos conhecemos através de pessoas que temos em comum e acabamos virando amigos antes de formarmos a banda. Tínhamos alguns trabalhos paralelos, a Nani era flautista do grupo Bayaka, o Fábio e eu (Ju Fiorezi) já fazíamos alguns trabalhos juntos para trilhas de espetáculos de dança e teatro.

Em 2007, Nani nos propôs formar um grupo artístico que unisse a experimentação vocal e a produção musical que já estávamos trabalhando. Amadurecemos a idéia e então em 2008 colocamos a mão na massa, e começamos a produzir algumas canções e buscar essa sonoridade que o grupo vem lapidando.

Balaio Contemporâneo - De onde vem esse nome tão criativo?

Eu, Você e Maria - Primeiramente, obrigada pelo criativo! No início quando ainda não tínhamos o nome da banda eu – Ju Fiorezi - e o Fábio perguntávamos um ao outro:

-Hoje temos ensaio?

-Temos? Quem?

- Eu, Você e a Nani

Então começamos a dizer que o grupo tinha esse nome, só para fazer uma brincadeira com a Nani. Com isso, decidimos trocar o nome, ao invés de Nani, por um mais popular, que fizesse referência a muitas pessoas que existem por aí e que não temos dimensão. Daí veio “Maria”, sugerido por Simon Ducroquet, que é um artista gráfico responsável pela capa do nosso EP, como uma representação do público e das suas manifestações populares.

Balaio Contemporâneo - A banda utiliza instrumentos artísticos, por quê?

Eu, Você e Maria - Em nossos shows, buscamos fazer uma mescla de instrumentos tecnogicos e de instrumentos orgânicos. O computador é um mundo cheio de possibilidades musicais; nele, além de escolhermos os timbres dos instrumentos, podemos incrementar nossa música, com efeitos e criar ‘‘loops’’ – laços - de voz que acabam se transformando na base de nossas músicas. Nele registramos nossas experimentações vocais e depois selecionamos e manipulamos os ‘‘samples’’ – amostras - que farão parte dos arranjos.

Além do computador, em nossos shows, também usamos violão, flauta transversal e percussão. E para grandes apresentações, convidamos dois músicos que levam ao palco os sons do bandolim, viola caipira, guitarra e efeitos de percussão.

O interessante é realmente essa mistura do tecnológico e do orgânico, que está muito presente no cotidiano das pessoas em geral.

Balaio Contemporâneo - Qual gênero musical vocês denominam para a banda?

Eu, Você e Maria - Na verdade não denominamos, acabam denominando para gente. Uma definição que gostamos muito foi “música eletro-acústica-vocal”, que acaba resumindo tudo o que fazemos. E poderíamos até acrescentar uma palavra “eletro-acústica-vocal-performática”, pois na verdade nossa música acaba sendo a junção do que fazemos musicalmente e da nossa interpretação no palco.

Mas não temos um gênero musical específico, a cada nova produção descobrimos novos sons. Então fiquem a vontade nas denominações!

Balaio Contemporâneo - Quem são os compositores das canções?

Eu, Você e Maria - Todos nós somos compositores, no show há pelo menos uma música de cada integrante da banda. Ao escolher as canções que fazem parte do show, cada integrante mostra suas composições e vamos selecionando as que falam dos temas que queremos abordar, como a simplicidade da vida, o amor e as crianças.

As músicas que compõem nosso primeiro EP são das seguintes autorias: “Abrem-se” e “Botão” é de Nani Barbosa; “Carrossel do Sonhar” é uma parceria minha – Ju Fiorezi - e de Fábio Raesh; e “Tenho Sede” é composição do consagrado Dominguinhos em parceria com Anastácia.

Balaio Contemporâneo - O que vocês acham da cena musical brasileira?

Eu, Você e Maria - Os músicos brasileiros têm muito talento e criatividade. Sempre houve música boa sendo feita, mas com a popularização da internet ela vem se tornando cada vez mais acessível.

O myspace tem trazido a democratização da música brasileira. E a maior facilidade no registro dessas músicas tem permitido que as bandas possam expor seu trabalho a quem quiser ouvir.

Acredito que estamos em uma transição no modo de se ouvir música. Há alguns anos, os festivais eram a grande vitrine da música brasileira, então os novos artistas eram conhecidos nos festivais e naquele tempo já passavam a ter seu público cativo.

Hoje em dia acredito que este movimento aconteça de uma forma diferente. Existem muitas bandas que estão fazendo sucesso e que tem um grande público, podem não estar circulando na TV ou até nas rádios, e mesmo assim mantém seu público fiel.

Outra questão que vem fortalecendo a cena musical brasileira é a união entre as bandas. Grupos que tem uma sonoridade semelhante estão se unindo e conquistando espaços que sozinhas não conseguiriam.

Todos esses fatores estão contribuindo com a divulgação da boa música e do fortalecimento do cenário musical brasileiro.

Balaio Contemporâneo - Vocês fizeram o primeiro show há pouco tempo atrás, qual foi a repercussão? Esperavam por isso?

Eu,Você e Maria - Tivemos uma boa surpresa no show, mesmo com toda a questão do problema da gripe A, nosso show teve o maior público deste projeto realizado pela Fundação Cultural de Curitiba – Terça Brasileira no Paiol.

Sempre após um show ficamos na expectativa sobre a reação do público e até mesmo da imprensa. Gostamos muito de ter um contato direto com eles, pois assim podemos perceber o que está agradando e melhorar nosso espetáculo afim de torná-lo cada vez mais bonito. E estamos muito felizes com o que tem chegado aos nossos ouvidos.


Balaio Contemporâneo - Vocês desmistificaram a "história" de que não é seguro conhecer pessoas na internet e trocar informações a partir da experiência, assim como nós, "Severinas". Como foi a realização da canção "gêmeos" por meio de e-mail com o músico Barulhista (MG), que logo estará aqui no balaio?

Eu, Você e Maria - Atualmente a internet é um meio muito interessante, principalmente quando se diz a respeito da divulgação da música. O nosso myspace acabou se tornando um ponto de encontro, onde podemos ouvir o que vem acontecendo no meio da música, trocar informações e acabamos achando até referências para usar em nossas produções.

Com o Barulhista(MG) acabou sendo assim. Ele nos ouviu no myspace, ouvimos o som dele também e gostamos um do outro. Ele nos convidou para fazer parte do novo projeto, no qual ele enviaria uma música para alguns grupos e este grupo poderia fazer uma versão. Ficamos muito felizes com o convite.

Então mantemos contato por e-mail e ele nos enviou uma música e nos identificamos muito com ela, passamos a produzi-la, colocando a sonoridade de “Eu, Você e Maria” e transformando-a em uma canção que falasse justamente do processo de conhecer quem está te ouvindo e poder fazer essas trocas e parcerias. O resultado vocês podem conferir tanto no myspace do grupo “Eu, Você e Maria”, quanto no músico Barulhista.

Outra coisa bacana que conseguimos via internet foi o contato com o musico Carlos Careqa (SP) que será participação especial em nosso próximo show. Fizemos contato também pelo myspace e consequentemente por e-mail. A internet tem sido um meio muito importante de contato com outros artistas e de difusão da música em todo o mundo.

Temos que saber aproveitá-la tanto para trabalho quanto para diversão. E é isso que temos buscado com o grupo “Eu, Você e Maria”.


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Agradecemos ao grupo “Eu, Você e Maria” pela entrevista concebida ao balaio contemporâneo, a fotografa – Thaís Kachel -, e a nossa “copidesque” – Sophia Borges.


Clique aqui e baixe o EP do Grupo “Eu, Você e Maria”


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